quinta-feira, 30 de junho de 2011

Dádiva (ou Monólogo de um pai Coruja de primeira viagem)

É tarde da noite. Em minha cama estou eu e minha filha a contemplar a escuridão que nos envolve e acalenta. Faço cafuné em sua cabeça enquanto música leve e calma assume o ambiente. No mais inesperado momento, começo a ouvir os suspiros e a respiração da criança que em meu peito dorme. E logo me pego pensando no futuro desta criança. Como vou explicar de onde ela veio? Como vou dizer o porque de eu não estar junto de sua mãe? Saberei ensinar como atravessar uma rua? E quando ela aprender a tomar banho sozinha, qual será minha diversão durante esse tempo? Quando eu tiver que chegar tarde do trabalho, conseguirei brincar com ela até ela (ou eu) dormir? Estarei lá pra ela me dizer do garoto que ela está gostando? Como vou reagir se um dia ela disser que está namorando? Saberei aceitar as coisas e permitir o que ela deseja? Ou pior, como vou fazer para dizer o tão temido NÃO? Se não passar de ano, que farei? E o vestibular, será que ela vai saber o que quer fazer quando chegar a idade? E se ela não quiser falar sobre o namorado que terminou com ela? E se for uma namorada? Trabalho... TRABALHO! Como será que vai ser daqui a alguns anos, ela estará com um emprego? Será que ela vai ser bem-sucedida? E se ela se decepcionar com o que faz? E os filhos dela, como serão? Seu marido irá tratá-la bem?

De repente, minha querida filha está me fitando, olhando como quem pede alguma coisa e fala: - Pai, pega meu ursinho de pelúcia? - e eu, de pronto, busco a pequena criatura jogada no meio da sala.

E foi nessa hora que me dei conta: não adianta nada ficar se perguntando pelo futuro, mas sim buscar fazer o melhor no presente para que o futuro seja que nem um filho: uma dádiva.