quarta-feira, 18 de abril de 2012

A vida de Nostodos

Quem fala o que quer: é mal interpretado, ouve o que não quer e, se brincar, ainda leva uma surra e dorme de couro quente e a moral ferida.

Pois, assim é a (orgulhosa) vida (orgulhosa) de Nostodos.

Ele, que tudo vê e tudo vigia, acaba por ver só aquilo que enxerga, mas não percebe nada além da visão. É triste, pois num mundo em que o invisível se torna claro, Nostodos não consegue ao menos tentar entender os contextos.

E então Nostodos sofre, xinga, amaldiçoa
Só porque é cego do juízo e de justeza.

sábado, 2 de julho de 2011

Arithmós

Nessa vida aprendemos que tudo é matemática.
Subtraímos de nós para dividirmos com outros,
Somamos amigos e multiplicamos felicidades.

Divido sorrisos para somar alegrias
Multiplicamos gargalhadas para subtrair a tristeza.

Mas nem tudo é soma.
Por não conseguirmos nos dividir,
acabamos por subtrair as pessoas que mais nos amam
Somado a isso, multiplica-se a solidão.

Mas há os sábios que não se incomodam em subtrair de si
e multiplicar seus carinhos, dividir os bons momentos.
E somar: uma vida cheia de boas lembranças e nada de arrependimentos...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Dádiva (ou Monólogo de um pai Coruja de primeira viagem)

É tarde da noite. Em minha cama estou eu e minha filha a contemplar a escuridão que nos envolve e acalenta. Faço cafuné em sua cabeça enquanto música leve e calma assume o ambiente. No mais inesperado momento, começo a ouvir os suspiros e a respiração da criança que em meu peito dorme. E logo me pego pensando no futuro desta criança. Como vou explicar de onde ela veio? Como vou dizer o porque de eu não estar junto de sua mãe? Saberei ensinar como atravessar uma rua? E quando ela aprender a tomar banho sozinha, qual será minha diversão durante esse tempo? Quando eu tiver que chegar tarde do trabalho, conseguirei brincar com ela até ela (ou eu) dormir? Estarei lá pra ela me dizer do garoto que ela está gostando? Como vou reagir se um dia ela disser que está namorando? Saberei aceitar as coisas e permitir o que ela deseja? Ou pior, como vou fazer para dizer o tão temido NÃO? Se não passar de ano, que farei? E o vestibular, será que ela vai saber o que quer fazer quando chegar a idade? E se ela não quiser falar sobre o namorado que terminou com ela? E se for uma namorada? Trabalho... TRABALHO! Como será que vai ser daqui a alguns anos, ela estará com um emprego? Será que ela vai ser bem-sucedida? E se ela se decepcionar com o que faz? E os filhos dela, como serão? Seu marido irá tratá-la bem?

De repente, minha querida filha está me fitando, olhando como quem pede alguma coisa e fala: - Pai, pega meu ursinho de pelúcia? - e eu, de pronto, busco a pequena criatura jogada no meio da sala.

E foi nessa hora que me dei conta: não adianta nada ficar se perguntando pelo futuro, mas sim buscar fazer o melhor no presente para que o futuro seja que nem um filho: uma dádiva.

domingo, 20 de março de 2011

lo spettacolo

Ela sempre achou que sua vida era tranquila, do jeito que queria.
Tinha o que queria, (achava que) amava seus amigos, parentes, namorados etc.
Era feliz, sempre fazendo o que os outros diziam o que era o melhor.
Não corria atrás do que queria, nem de suas vontades nem esperanças.
Às vezes queria, mas voltava a não pensar naquilo para não querer ter forças e ir atrás.
Vivia na comodidade, no médio-termo.
E achava que tudo aquilo era o melhor...

Mas, como tudo um dia vem a se revelar, ela percebe que nada que fizera foi de fato sua vontade.
Sentiu que era uma outra pessoa vivendo a sua vida.
Percebeu que ficava sempre nos bastidores de seu próprio espetáculo de viver.
Ela sabia que um dia precisaria de sentir, tomar as rédeas de sua própria peça.
Sabia que teria que sair de trás das cortinas, ou de aplaudir a trama de si mesma vivida por outra pessoa que não ela.
Ela teria sim que atuar, agir, sentir, emocionar-se e emocionar.
Sentir aquilo de fato, largar mão de criticar ou apenas assistir.

E Ela sabia sim, que deveria sair e brilhar, porque ninguém vive se não agir, atuar.
Pra quando o fim chegar ela poder olhar pra trás e saber que sentiu, amou, chorou, alcançou.
Viveu.

Cresce, vive, brilha, atua.
Pois que o espetáculo da vida é único e precioso demais para não ser aproveitado.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pensando...

Muitas pessoas comentam suas fraquezas, o medo de tentar, dentre elas, é a que mais se destaca e a que mais me chama a atenção.
Mas medo de tentar o quê?
O desconhecido é tão pavoroso ao ponto de você nem ao menos achar que aquilo merece o mínimo de atenção? E depois, o sentimento de que algo deixou de ser feito dominar e causar arrependimento, como fica?

Há tantas queixas, tanto remorso, tanta culpa.
Inconstância, alguns dizem.
Mas que ela é apenas resultado da insegurança e do medo diante daquilo que se sente e é desconhecido. Alguns preferem dizer que são inconstantes em vez de dizer que são covardes o suficiente para tentar algo novo.
E o porquê dessa insegurança?
Justamente algo que sai da zona de conforto onde você não mais tem o controle da situação.

Bem,
O segredo é que não há segredo.
Apenas descomplicar, não hesitar.

Pra depois não ficar pensando...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

T-T-T-Try

Das coisas antigas quero lembrar
E as novas, saborear.
Temperos, cheiros,
Cabeças, ideias, visões e sensações.
E tudo aquilo que possa abranger.

Sabores, do acre ao doce
Dos lábios mais delicados aos mais sórdidos
Dos corpos mais libidinosos aos mais castos
Do amor mais puro ao mais selvagem

Porque é a isso que a vida se resume:
Vivência e experiência

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Realizar

E num clima de retrospectiva e introspecção propiciado pelos tradicionais programas de fim de ano nas televisões, rádios e mídias em geral, percebo que grande parte das pessoas acabam fazendo o mesmo com as suas vidas: uma retrospectiva do ano que se finda.
Uma coisa interessante que noto é que a maioria (esmagadora) para e pensa no que deixou de fazer, e não no que foi feito.
Seria cômico, se não fosse um pouco trágico, até.
Pessoas cômodas ao ponto de não se correr atrás do que ser quer; ou até mesmo se dar ao trabalho de sonhar. Viver uma vida medíocre, é o destino delas.

Mas até mesmo aqueles que lutam, esbravejam, choram, enfim, são idiotas (idiotas são os que amam de verdade) também revêem o seu ano. Mas a partir de uma ótica diferente: "o que foi que eu não quis fazer, foi aquilo que deixou de ser feito". Digamos que seja até reconfortante pensar dessa maneira. A sensação de "onipotência" é mágica.

Resta saber se queremos pensar no que deixou de ser feito ou lembrar das coisas que fizemos e nos orgulhamos.
Não aquele orgulho idiota que não nos permite fazer as coisas. Esse é mau (como diria minha filha Sofia).
E sim aquele orgulho que nos preenche, regozija e dá força pra seguir caminho e realizar.
E me realizar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Piangendo

E hoje chorei.
Chorei as lágrimas que outrora não me vieram.
Chorei as tristezas que me acometeram
e as alegrias que me infundiram.

Talvez essa coisa de ser pai me deixou um pouco mais sensível.
Ou reler o livro de minha vida finalmente irrigou meus dutos lacrimais.

O fato é que chorei, chorei. E choraria de novo.
Sejam tristes, alegres, depressivos ou excitantes,
motivos para chorar nunca acabam.
Quem se acaba sou eu, lutando para não soltá-las.

E choro.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quem?

Pessoas vêm e vão, você conhece algumas, não reconhece os velhos amigos, faz alguns novos, entra em mentes diferentes. Quase todo o tempo.
Algumas delas ficam, outras, se vão.
Algumas delas você sente falta, outras, não.
Delas você pode pegar manias, jeitos, trejeitos.
Gestos, qualidades, defeitos.
Todas elas marcam de alguma maneira.

Na história da sua vida, a maioria das pessoas são apenas uma citação.
Algumas, acabam servindo de uma página.
E poucas, ou muito poucas, um capítulo.

Mas quem é que tem a audácia de ser o livro inteiro?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ricordare (como Platão já disse)

E no caminho de casa, o cheiro da rua me lembrava os dias em que pensava em ser astronauta ou médico. Ou ainda cultuava os super-herois de outrora.
Mas na verdade o que me inquietava era a saudade das coisas que nunca cheguei a fazer, dos momentos que nunca passei, do gosto das bocas que nunca provei.
Sublime a forma como a vida tem de dar lições: remorso por atitudes nunca tomadas, mudanças radicais de opinião, paixões duradouras e "amores" efêmeros. Amor desses que vêm e vão mas sempre te deixa marcas. Efêmeros em duração, mas nunca em intensidade. Amores esses que deixam saudades.

Lembro o jeito que me tocavas, tua boca macia me instigava como pequenos choques, fazendo o ar em nossa volta testemunha de nossa paixão.
Lembro as vezes em que ouvia as músicas que gostavas, para ver se um dia eu pudesse ser personagem de algum destes amores, heróis, vilões, amados e amantes.
Lembro como ficavas irritada com minhas infantilidades, umas propositais, outras não: fazia só para que tu me cuidasses, me aprumasses, me tornasse uma pessoa de verdade.
Lembro dos planos que fazíamos, um futuro incerto que não nos pertence, mas que cabia apenas a nós construí-lo e trabalhar para alcançá-lo.

Lembro.
Todo o resto é dúvida.