sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ricordare (como Platão já disse)

E no caminho de casa, o cheiro da rua me lembrava os dias em que pensava em ser astronauta ou médico. Ou ainda cultuava os super-herois de outrora.
Mas na verdade o que me inquietava era a saudade das coisas que nunca cheguei a fazer, dos momentos que nunca passei, do gosto das bocas que nunca provei.
Sublime a forma como a vida tem de dar lições: remorso por atitudes nunca tomadas, mudanças radicais de opinião, paixões duradouras e "amores" efêmeros. Amor desses que vêm e vão mas sempre te deixa marcas. Efêmeros em duração, mas nunca em intensidade. Amores esses que deixam saudades.

Lembro o jeito que me tocavas, tua boca macia me instigava como pequenos choques, fazendo o ar em nossa volta testemunha de nossa paixão.
Lembro as vezes em que ouvia as músicas que gostavas, para ver se um dia eu pudesse ser personagem de algum destes amores, heróis, vilões, amados e amantes.
Lembro como ficavas irritada com minhas infantilidades, umas propositais, outras não: fazia só para que tu me cuidasses, me aprumasses, me tornasse uma pessoa de verdade.
Lembro dos planos que fazíamos, um futuro incerto que não nos pertence, mas que cabia apenas a nós construí-lo e trabalhar para alcançá-lo.

Lembro.
Todo o resto é dúvida.

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