quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Realizar

E num clima de retrospectiva e introspecção propiciado pelos tradicionais programas de fim de ano nas televisões, rádios e mídias em geral, percebo que grande parte das pessoas acabam fazendo o mesmo com as suas vidas: uma retrospectiva do ano que se finda.
Uma coisa interessante que noto é que a maioria (esmagadora) para e pensa no que deixou de fazer, e não no que foi feito.
Seria cômico, se não fosse um pouco trágico, até.
Pessoas cômodas ao ponto de não se correr atrás do que ser quer; ou até mesmo se dar ao trabalho de sonhar. Viver uma vida medíocre, é o destino delas.

Mas até mesmo aqueles que lutam, esbravejam, choram, enfim, são idiotas (idiotas são os que amam de verdade) também revêem o seu ano. Mas a partir de uma ótica diferente: "o que foi que eu não quis fazer, foi aquilo que deixou de ser feito". Digamos que seja até reconfortante pensar dessa maneira. A sensação de "onipotência" é mágica.

Resta saber se queremos pensar no que deixou de ser feito ou lembrar das coisas que fizemos e nos orgulhamos.
Não aquele orgulho idiota que não nos permite fazer as coisas. Esse é mau (como diria minha filha Sofia).
E sim aquele orgulho que nos preenche, regozija e dá força pra seguir caminho e realizar.
E me realizar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Piangendo

E hoje chorei.
Chorei as lágrimas que outrora não me vieram.
Chorei as tristezas que me acometeram
e as alegrias que me infundiram.

Talvez essa coisa de ser pai me deixou um pouco mais sensível.
Ou reler o livro de minha vida finalmente irrigou meus dutos lacrimais.

O fato é que chorei, chorei. E choraria de novo.
Sejam tristes, alegres, depressivos ou excitantes,
motivos para chorar nunca acabam.
Quem se acaba sou eu, lutando para não soltá-las.

E choro.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quem?

Pessoas vêm e vão, você conhece algumas, não reconhece os velhos amigos, faz alguns novos, entra em mentes diferentes. Quase todo o tempo.
Algumas delas ficam, outras, se vão.
Algumas delas você sente falta, outras, não.
Delas você pode pegar manias, jeitos, trejeitos.
Gestos, qualidades, defeitos.
Todas elas marcam de alguma maneira.

Na história da sua vida, a maioria das pessoas são apenas uma citação.
Algumas, acabam servindo de uma página.
E poucas, ou muito poucas, um capítulo.

Mas quem é que tem a audácia de ser o livro inteiro?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ricordare (como Platão já disse)

E no caminho de casa, o cheiro da rua me lembrava os dias em que pensava em ser astronauta ou médico. Ou ainda cultuava os super-herois de outrora.
Mas na verdade o que me inquietava era a saudade das coisas que nunca cheguei a fazer, dos momentos que nunca passei, do gosto das bocas que nunca provei.
Sublime a forma como a vida tem de dar lições: remorso por atitudes nunca tomadas, mudanças radicais de opinião, paixões duradouras e "amores" efêmeros. Amor desses que vêm e vão mas sempre te deixa marcas. Efêmeros em duração, mas nunca em intensidade. Amores esses que deixam saudades.

Lembro o jeito que me tocavas, tua boca macia me instigava como pequenos choques, fazendo o ar em nossa volta testemunha de nossa paixão.
Lembro as vezes em que ouvia as músicas que gostavas, para ver se um dia eu pudesse ser personagem de algum destes amores, heróis, vilões, amados e amantes.
Lembro como ficavas irritada com minhas infantilidades, umas propositais, outras não: fazia só para que tu me cuidasses, me aprumasses, me tornasse uma pessoa de verdade.
Lembro dos planos que fazíamos, um futuro incerto que não nos pertence, mas que cabia apenas a nós construí-lo e trabalhar para alcançá-lo.

Lembro.
Todo o resto é dúvida.